sábado, 23 de julho de 2011

Ela, péla, sempre ela. Sempre ela com a sua sandália enfeitada, caminhando pela estrada com seu requebrar de ciganinha faceira. Sabia tudo, seu moço. E sabia! Vinha com um caneco na mão tilintando os vinténs, as pulseiras, os brincos d'ouro, migalhas da vida. Vinha quase pairando com uma rosa no cabelo. Fungava o meu rastro.Rodopiava. Girava. Gargalhava para acordar os seus. Me olhou. Me averiguou. Escapou sorriso pelo canto dos lábios vermelhos daquela moça com cabelo cumprido, tão cumprido quanto a sua sabedoria. Adentrou na minh'alma pelos olhos. Balançou a cabeça. Mirou minha vida. Escondida na voz ritimada, murmurou no meu rosto. Vai, seu moçu, sai daí desse mundinhu. Bataia ...seu moçu, que vai vê virá lua numa ciranda de sangue. Ela, sempre ela, se mandou terra abaixo, no tilintar do sino da capelinha, ia no meio do nada . Um nada. Que nada! Com as mãos nas cadeiras, andava de costas, ria da minha cara como uma mulher vivida. Meia noite, noite meia. A lua ainda não se arredava. Ela saía como uma perdida fugindo da vida. Balançava as saias do seu vestido atiçado. Seu caneco com moedas de prata ritimavam os seus passos corriqueiros. E lá em cima, no alto duma sombra. Ela, péla, sempre ela, se foi ela a me dizer. Sou Daia, me chamam de Dainha. Rosaia eu sô, foge desse lugá, vem cum eu, seu moçu, abre a portêra da cela, má vô girá...E, como um eccoecco, desapareceu a Daia. Me chamam de Daia, Dainha, dia ponga danga didaia, dança, canga sangra giponga! Rosaia.
(Gargalhou uma rosa)

Jádison Coelho

17 comentários:

  1. Legal o modo como vc usa a fala coloquial,Parabens!
    http://juventudeinformada.blogspot.com/

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  2. Confesso que gostei demais do seu texto !
    Parace um daqueles artistas da literatura !

    Cheguei a me apaixonar por essa rosa .

    Parabéns !

    tee seguiindo !

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  3. Um conto rápido.
    Legal. Interessante.
    Foi bem criativo. Gosto disso.
    Rosaia me lembrou uma entidade da Umbanda.
    Pode explicar melhor da onde saiu essa rosa.
    Fui capaz até de escutar a gargalhata típica dela no final.
    Parabéns, escreve muito bem!Já tem obra publicada? Você tem alma de escritor. Seus outros textos são barbaros.

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  4. Amanda, minha linda! Saudades de ti.
    Rosaia foi parida ano passado, me lembro bem...tinha ligações com a Umanda. Ela é uma cigan né? Ela gargalha, gira, requebra, fala ritimado. Então....Você está certa. Porém, na verdade, Rosaia somos nós no meio do nada! Que nada!

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  5. Não sei em que categoria esse teu texto se enquadra, prosa, poema, poesia, rima, cordel, mas é muito legal e bem escrito, parabéns Jádison, tu escreve muito bem. Fazia um tempinho que não pintava por aqui, mas vamos manter o contato, ok?

    Abração pra ti.

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  6. Cara, parabéns! Adorei esse aqui. Muito bom mesmo! Se quiser "jogar fora" mais preciosidades como essas, mada que a gente consome.
    Muito bom mesmo.
    Me lembrou "Possessão", por causa da sinestesia, da imagem muito bem construída, vívida.
    Vou copiar! :)

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  7. Gostei da descrição da personagem e de sua caracterização, além da fala coloquial dar um toque regionalista. Muito bom mesmo.

    Obrigado pela visita no meu blog. É muito bem vindo a voltar.

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  8. Texto leve, cheio de malícia, feito mesmo uma cigana girando a saia!Divertido e repleto de mensagens nas entrelinhas. Grande abraço

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  9. Jádison, um grande abraço. Saiba que sou um profundo apaixonado pela Bahia, viu, terra que morei por quatro anos por motivos profissionais e até hoje guardo grandes recordações. Bom, desculpa fazer esse registro, mais não poderia perder essa oportunidade de falar do carinho que tenho pela boa terrinha diante do fato de saber que o amigo é da Bahia. Pois bem, eu também daqui fiquei interrogando-me sobre o seu texto que trás dentro de uma bela escrita, por sinal, a sua maneira inteligente de colocar as palavras e o entendimento delas de uma forma que realmente definir o texto não se precisa, basta deixar elas entrarem por nossas mentes e coração a definirá. Parabéns pelo texto meu caro. Mais uma vez, um grande abraço.

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  10. E quem sabe Daia não seja eu mesmo, gritando pra mim mesmo?! Como se parte de mim quisesse levar minha outra metade por caminhos que eu quero mas insisto em não trilhar... por medo, ou por falta de vontade de verdade.
    Belo texto. Estava esperando os créditos de um autor brasileiro famoso ao final, mas encontrei os de um grande autor brasileiro, mas que por ventura não é famoso... mas quem sabe será. Você escreve muito bem. Parabéns.

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  11. seguindo seu blog. segue tbm

    http://desabafodeumalunatica.blogspot.com/

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  12. Este post me lembrou Manuel Bandeira, principalmente na poesia Irene. Mas o que mais gostei mesmo foi a forma como você descreveu a sensibilidade natural dela aos poucos durante este conto-poesia. Ao mesmo tempo, podemos interpretar a ``fugida`` dela como uma espécie de escapismo. Vou lá ser feliz e não volto, pois virei a catraca. Dá vontade de dizer: Vá e seja livre, livre e feliz como num sonho realizado.

    Jádison, eu quero muito te agradecer pelo excelente comentário que você deixou no meu blog. Saiba que suas palavras enalteceram a discussão sobre o tema. Me senti honrado pela recepção.

    Grande abraço e seja sempre bem-vindo.

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  13. Fico feliz em ter um seguidor como vc, de um senso crítico incomparável e de muito talento... Talento esse expressado claramente em suas postagens... Parabéns pela escrita criativa que vc tem, realmente como Marcus frisou, tb me veio a mente o Manuel Bandeira, o escapismo é presente no texto e gosto das riquezas de detalhes colocados de maneira simples e poética. Cara vc devia registrar suas obras... Eu compraria um livro seu...

    Abraço!

    www.jaylsonbatysta.blogspot.com
    www.simplesmentejaja.blogspot.com

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  14. gostei bastante do teu texto! (:
    http://apaixonadasporcosmeticos.blogspot.com

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  15. Que lindo seu texto! Lembra algo bem regionalista e explora os detalhes!

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